Sprezzatura – Significa a capacidade de parecer indiferente e fácil ao realizar ações difíceis, escondendo o esforço que elas exigem. O termo é frequentemente usado no contexto da moda masculina, onde os trajes clássicos são usados de forma intencional. Serve para classificarmos coisas, como produtos do design italiano; ou até pessoas, como uma barista preparando o seu espresso favorito mais uma vez.

No mundo da música não é diferente. E é esse o estilo que Bobby Caldwell e muitos outros de seus contemporâneos carregam. Boz Scaggs, Michael McDonald, Christopher Cross, Kenny Loggins… essa cena da música adulta para a rádio dos meados dos anos 70, comercialmente conhecida como “Yatch Rock”, possui a suavidade vocal, o refinamento e diversidade instrumental como principais características. Uma grande mistura de rock, R&B, jazz e música latina, que também envolveu grandes nomes de produtores e instrumentistas trabalhando como músicos de sessão em estúdios. Sons que até hoje estão bem presentes nos programas noturnos das rádios – alguns exemplos como aqui em São Paulo, que são a Alpha FM e Antena 1.

Bobby obteve seus maiores sucessos desde esse período, até mais ou menos os meados dos anos 80. Sendo o maior de todos, o hit de 1978 “What You Won’t Do for Love”. Além, claro, de trabalhar como escritor e compositor para outros artistas, como o Peter Cetera. Após esse período, ele começou uma lenta transição para cantar músicas de smooth jazz e easy listening, onde também se deu muito bem. E “Stuck on You”, de 1991, é a metade dessa trajetória, onde conseguiu unir o melhor entre diferentes gêneros, com técnicas consolidadas daquela época próprias para a rádio.

Abrindo com a minha favorita, “Don’t Lead Me On”. Um easy listening com arranjos e instrumentais de jazz, onde algumas técnicas lembram um pouquinho as produções de Soul e R&B do final dos anos 80. Notem como ele consegue trabalhar todas as vozes de forma tão equilibrada, completamente sozinho.

A seguinte, “Stuck On You”, essa sim, uma música 100% easy listening. Algo que você ouviria na época do Frank Sinatra.

Daí para frente temos sons mais fiéis às suas origens, com “Cry”, “Janet” e “Without Your Love”. Essas sim, provavelmente as músicas mais propícias a entrar em uma rotação de rádio. R&Bs bem acompanhados por guitarras, cada faixa com um tempo mais lento que na outra, assim como nos sons dos anos 80. É o som nostálgico que desce fácil, e se você ligar a sua rádio na madrugada terá a sorte de ouvir algo similar. Eu não era nascido nessa época, mas é fato de que as rádios preservam esse tipo de música em suas rotações até hoje. Então minha infância também foi acompanhada por tudo isso.

“Promissed Land” é o mais próximo de um R&B com uma letra com uma narrativa ou história impactante, e é seguida pela baladinha de soft-rock “Don’t Give me Bad News”.

“Solid Ground”, lembra um pouco a música do Donald Fagen, tanto os instrumentos utilizados quanto os arranjos. E “Back to You”, feita em parceria com Patrice Rushen e com os vocais de Marylin Scott, a lenta mais romântica do álbum.

E o álbum fecha com “Every Man”, um reggae bem suave com uma letra sobre a condição humana.

Então, isso é “Stuck on You”. Se o seu gosto é para algo mais suave, ou quer apenas ficar introspectivo e relaxar à noite, então é para você.

Bobby Caldwell nos deixou em 2023. Mas criou um pequeno legado que foi, inclusive, sampleado por vários artistas de hip-hop. E, ironicamente, por muito tempo poucos acabaram conhecendo seu rosto. Não pela falta de fama, necessariamente, mas pelo fato de ele usar apenas a sua própria silhueta (uma figura que ele mesmo recortou e criou) nas capas dos álbuns por muitos anos. Afinal, disseram a ele que seria muito difícil vender R&B nos anos 70 e 80, sendo um homem branco. Preconceitos da época, mas que acabaram criando uma identidade visual própria, do cantor de terno e chapéu sendo banhado pelo luar colorido, que ficou na memória para sempre.

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Show de bola, Rafa. Sons que trazem uma certa nostalgia até mesmo para quem não viveu a época de lançamento. Nós viemos depois, mas desde sempre essas músicas estão nas rádios. Para quem não sabe onde escutá-las, basta fazer uma breve visita a qualquer consultório de dentista.

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