Quando Jason Kay apareceu na TV andando e dançando em diferentes direções por uma sala que se movia, e (mais uma vez) vestindo um chapéu engraçado, o mundo da produção audiovisual para a música nunca mais foi o mesmo. 

Lançado em 1996, “Travelling Without Moving” é o terceiro álbum do Jamiroquai. Também percebido como o primeiro passo da banda para fora do jazz-funk, e em direção às águas internacionais. Depois do sucesso dos dois primeiros álbuns e alguns hits dentro da cena do Acid-Jazz britânico, o apelo ao som dos clubes noturnos e à rádio mainstream falaram mais alto, e algumas das músicas mais populares da banda vêm exatamente dessa empreitada diferente. Como resultado, foram vendidas mais de 8 milhões de unidades, tornando-se, segundo o Guinness World Records, o álbum de funk mais vendido da história.

Hoje é o meu álbum favorito deles, justamente por ser um som na medida certa, de composições de qualidade, com um pouco mais de músicas mais próprias para a rádio e TV. Uma experiência animada e bem leve, com um pouquinho de alta-velocidade.

O lançamento foi acompanhado de videoclipes atraentes para algumas das músicas. A composição visual dos clipes era um prato cheio para os clubbers prestes a saírem para a festa, com a TV ligada no fundo. Eram tão bem-produzidos que me faziam sempre procurar detalhes novos a cada vez que eu assistia. Tanto que eles se tornaram uma parte enorme do imaginário da banda a partir daí.

E sobre o imaginário e a identidade: o tema central de abraçar a sustentabilidade, o amor à natureza, e observações sobre a condição humana tiveram um pouco de seu espaço cedido aos sons mais dançantes. A própria capa do álbum já denota a mudança temática, um lifestyle de glamour, energia e um ritmo acelerado. 

“Travelling Without Moving” possui uma mixagem com um som meio baixo, mesmo sendo melhor executada que nos dois álbuns anteriores – e o remaster resolve um pouco disso. Abrindo com o maior hit, “Virtual Insanity” entrega um som bem parecido com o Stevie Wonder dos anos 70, e uma letra carregada com a temática de preocupações e neuroses contemporâneas sobre o avanço da tecnologia. Essa já está “memorizada” por muitos, já que milhões já viram o clipe repetidas vezes nas últimas três décadas. Uma excelente composição, apesar de não ser a minha predileta.

“Cosmic Girl”, “Alright” são as faixas mais dançantes, além da longa faixa escondida “Funktion”, essa que realmente soa como uma jam session. ”Use the Force”, “High Times”, e a faixa homônima (a minha favorita) são as mais intensas, com destaque à essa última, que abre ao som do acelero e das trocas de marchas de uma Lamborghini Diablo – a mesma do videoclipe de “Cosmic Girl”. Em todas elas, a magia surge em boa parte devido ao capricho melódico e rítmico da banda, e em especial o brilhantismo do teclado e composições do falecido Toby Smith, e o contrabaixo de Stuart Zender. Para ser sincero, suas linhas de baixo são a assinatura do som da banda desde o seu surgimento, e para muitos a sua saída – logo após esse álbum – foi uma perda insubstituível. Para mim, foi único, mas gosto igualmente dos baixistas que vieram nos anos seguintes, em especial o Paul Turner, talvez não tão criativo mas igualmente competente. Mas em todos os casos, a banda entrega maravilhosas linhas de baixo o tempo todo, e se tornou mais uma referência digna do mundo do funk, buscando inspirações de muitos sons dos anos 60, 70 e 80.

Um outro som interessante é a música bônus “Do You Know Where You’re Coming From”, um drum n’bass com Jason Kay no vocal e uma linha de teclado bem suave, criado com a parceria do DJ M-Beat. Tudo acompanhado de um videoclipe em preto-e-branco de baixo orçamento com breakdance. Puro suco de anos 90. O resto é de músicas lentas e alguns instrumentais, que fazem mais sentido durante um play completo do álbum do começo ao fim.

“Travelling Without Moving” é a escolha para qualquer coletânea ou playlist que envolva sons de festa da década de 1990, além de ser uma porta de entrada para o mundo do jazz-funk e acid jazz para ouvidos mais pop. Chamo atenção aos videoclipes, pois afinal acredito que ajudam a capturar a essência e estilo da banda por completo. Tanto o Jamiroquai quanto o acid jazz já estão aí a mais de três décadas; por isso, mergulhem nesse mundo! Vão encontrar muita coisa boa. Por último, fica um presente ao leitor, um review das linhas de baixo da banda por baixistas.

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Uau! Em cada linha do artigo, foi transmitida uma emoção palpável, demonstrando claramente a sua paixão pela música. Você é incrível, e eu admiro profundamente a sua dedicação em tudo que se propõe a fazer. Desejo sinceramente que o mundo conheça esse homem inteligente e maravilhoso.🙏🏿🚀❤️

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