“Look What The Cat Dragged In” (1986), disco de estreia do Poison, chama a atenção por diversos fatores: o visual da banda na capa que, apesar de ser relativamente comum na década de 1980, causou bastante estranhamento, levando algumas pessoas a comprar o disco achando que era uma banda formada por mulheres, ou algo assim. Era a androgenia levada a outro nível. Além disso, o orçamento para a gravação do debut foi muito modesto, algo em torno de 23 mil dólares, o que era pouco se comparado com o que já era praticado na época. E um detalhe que torna o fator financeiro mais interessante nessa história é que a grana foi fruto de uma “vaquinha”, que contou principalmente com o apoio dos pais dos integrantes da banda. Se você tem pouco dinheiro, o jeito é gravar logo, e foi isso que eles fizeram.

O álbum ficou pronto em 12 dias, produzido por Ric Browde, que anteriormente já havia trabalhado com o Ted Nugent. É claro que, com todas essas “limitaçõe$”, a qualidade da produção não seria a melhor. Apesar de não ser ruim soa mais crua e menos elaborada que os álbuns seguintes.

Vale mencionar que o título traz uma expressão super bem-humorada. Quem é brasileiro e lê “Look What The Cat Dragged In”, pode achar que é “Olhe o que o gato trouxe para dentro”, mas não é nada disso. Quem conviveu ou conhece os hábitos dos felinos sabe que eles costumam trazer coisas bem desagradáveis para “presentar” seus tutores. Portanto, essa expressão serve para aquelas ocasiões em que encontramos pessoas equivalentes aos presentes que os gatos nos oferecem e soltamos um sincero “Olha quem está aqui”. Mas também são utilizadas em situações de brincadeira, o que imagino ser o caso do Poison, já que a banda sempre teve por característica tirar sarro das coisas.

“Cry Tough” abre os trabalhos com a energia lá no alto, trazendo uma mensagem de motivação: acreditar nos sonhos e ir à luta, independente das dificuldades, que são muitas. Nessa faixa, o refrão é muito marcante, fazendo quem ouve a música ficar com esse trecho na cabeça:

“You gotta cry tough
Out on the streets
To make your dreams happen”

Um dos grandes destaques do disco vem logo na sequência, “I Want Action”, que já traz aquela vibe do hard rock dos anos 80: festa, curtição e mulherada. Novamente, o refrão é o grande destaque. Parece que os caras pegaram a receita do refrão “chiclete”.

Encerrando a trinca de abertura, uma balada chamada “I Won’t Forget You”. Confesso que essa foi uma daquelas que eu passei a gostar após ouvir algumas vezes. Hoje, considero essa faixa parte fundamental do disco. Não sei vocês, mas para mim parece que o C.C DeVille tentou emular o timbre e a pegada de “Love Hurts” do Nazareth, mas teve que ir por um outro caminho, já que todos nós sabemos que ele é um guitarrista bem limitado, principalmente ao vivo. É claro que esse fator não tira os méritos da canção, mas uma ajudinha do Manny Charlton não faria mal algum se a intenção era mesmo essa. Confere aí:

Para finalizar meus destaques, embora goste do álbum inteiro, vem a música que catapultou o Poison para o sucesso: “Talk Dirty To Me”. Mais uma música maliciosa, bem sacana, típica das bandas do gênero. Nela podemos enxergar a assinatura do C.C DeVille, dessa vez de forma positiva. Ele trouxe uma pegada bem “ramonesca” para o riff. Inclusive, dá para saber qual foi a inspiração: Ouça “Suzy Is a Headbanger” dos Ramones e tente enxergar a semelhança.

Muito se fala da capacidade técnica (ou a falta dela) dos integrantes da banda, mas sejamos sinceros, os caras não estavam nem um pouco preocupados em soar como grandes nomes do Rock Progressivo ou demonstrar habilidades espetaculares com seus respectivos instrumentos. Eram garotos querendo curtir, beber de graça, fazer algum sucesso e pegar a mulherada. Disco divertido, leve e muito legal de ouvir. Funcionou tão bem que o álbum ganhou três discos de platina nos Estados Unidos, além de atingir o terceiro lugar na Billboard 200 em 1987. Não posso deixar de mencionar a importância que a MTV teve nesse sucesso. Os videoclipes do Poison passavam à exaustão na emissora, e o fato deles serem muito divertidos colaborou para que a banda atingisse uma grande popularidade.

Nada mal para uns moleques sem grana e que tinham apenas um sonho, não é mesmo?

Ouçam e se divirtam! Ah, não posso esquecer de do meu mantra. Há dois tipos de roqueiros: os que curtem rock “farofa” e os que não assumem.

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