“Na Estrada” é o segundo álbum do DJ Patife, de uma era quando a música eletrônica brasileira, mais especificamente o Drum N’ Bass, estava em alta rotatividade em novelas, comerciais de televisão, séries e filmes, e até ganhou os lounges e pistas do mundo. Da mesma época, vêem à mente DJs e grupos como o DJ Marky, XRS Xerxes de Oliveira, Kaleidoscópio e Drumagick. O que salta aos ouvidos é que o nosso produto daquela época foi diferente, os artistas misturavam as batidas aceleradas com melodias diferentes e outros gêneros musicais, em especial a soul music, samba rock e MPB. E você pode ler mais sobre essa mistura por aqui.

Adentrado o álbum, o DJ abandona a técnica de mixagem “sem parar” do início ao fim, que ele usou no álbum anterior, e trata cada música como algo separado. Ele conta com variadas vozes em diferentes línguas. Abre com a leveza feminina de Camila Andrade em “Diariamente”, e segue com com uma versão de “Overjoyed” – original do Stevie Wonder, refeita com violões ao estilo de bossa nova (e que ganha um remix no final do álbum). Mas a primeira que agarrou o meu coração foi “Enigma”, com uma letra que combinada com a melodia fica muito leve, significativa e bela:

Outros destaques em seguida são “Lovin U”, e “Que Pena” (regravação do sucesso de Jorge Ben).

Temos, então, uma “virada” com uma versão de sem interferências “The Midnighter”, uma música bem famosa dos anos 50 do The Champs, mas até que acaba cabendo aqui, na temática de vida noturna. Aliás, também ganha um remix no final do álbum. E é seguida de “The Secret”, uma bossa nova com pequenos toques de remixagem, “Forgiven” que é puro soul, “Link” que é mais riponga e experimental.

Como último destaque, “Made in Bahia”, que traz o som da bateria ao estilo do Olodum junto de um ritmo eletrônico e a voz com sotaque jamaicano do britânico Cleveland Watkiss carregando a energia do Drum and Bass.

E isso é “Na Estrada”. Um blend bem sofisticado e MUITO bem feito, seja para a rádio ou para a pista.

Tem um detalhe também que me chama a atenção – a foto de capa. Ao conhecer um pouco mais sobre a carreira do Patife, notei que a capa possivelmente exibe seu espírito aventureiro a um nível mais profundo do que se imagina. Filho de motorista de ônibus, ele sempre se viu na estrada desde pequeno, e chegou até a trabalhar como motorista no começo da vida adulta. A carreira de DJ falou mais alto, e seu sucesso o levou para diversas gigs ao redor do mundo por mais de uma década, e acabou indo morar e formar família na Europa.

Mas como na vida de qualquer um, imprevistos nos levam a novos caminhos – na pandemia de 2020, e com uma escassez de gigs, ele apostou na formação como motorista de caminhões, obteve sucesso e hoje é caminhoneiro em Portugal; inclusive possui seu próprio canal de youtube, onde conta suas experiências e aprendizados. E sim, ele ainda faz algumas gigs, só lhe falta tempo.

No final das contas, seu espírito sempre esteve na estrada.

0 0 votos
Avalie o disco

0 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votado
Feedbacks imbutidos
Visualizar todos comentários
plugins premium WordPress