Estava eu assistindo ao vídeo do canal do Gastão Moreira, mais especificamente o “Heavy Lero Podcast”, sobre o movimento Manguebeat, que se chama “Os SONS de RECIFE e o ABRIL PRO ROCK” (vale muito a pena assistir), quando, entre outras bandas, ouvi sobre um tal de Jorge Cabeleira. Curioso que sou por música, fui conferir o som dessa rapaziada. Já posso dar spoiler nessa resenha e dizer que achei foda?

Apenas dando um passo atrás e contextualizando, o movimento manguebeat foi a manifestação cultural que explodiu na década de 1990 em Recife e região. Assim como o Grunge, frequentemente confundido com um subgênero do rock, o manguebeat tem mais a ver com a posição geográfica e a época do que com a similaridade sonora das bandas que compunham o movimento.

Nele tem de tudo: rock, maracatu, hip-hop e várias outras referências à cultura local e nordestina, de maneira geral. Não é difícil mergulhar nos sons das bandas e encontrar tudo isso misturado. Enfim, uma época em que movimentos culturais se desenvolviam de forma orgânica pelo Brasil, uma época em que ainda se nutria fome por arte e cultura. Essa galera com certeza tinha o punk nas veias e aderiu de forma espetacular ao famoso “faça você mesmo”. Eles fizeram!

Há pouco citei a miscelânea de ritmos nos discos, e o que mais me chamou a atenção em “Jorge Cabeleira e o dia em que seremos todos inúteis”, é exatamente isso. Eu particularmente acho demais quando o rock se mistura com ritmos brasileiros. Além de ficar incrível, é extremamente original, afinal, só a gente pode produzir esse tipo de som.

O disco abre com a música “12 Badaladas”, que já chega mostrando a pegada da banda e do disco.

Na sequência temos “Jabatá e o Diabo”, “Sol e Chuva” e “Carolina”, música do lendário Luiz Gonzaga, de um jeito que você provavelmente nunca ouviu, aposto!

Depois vem duas das melhores músicas do disco: “Nervoso na beira do mar” e a hardcore “Silepse”. Sério, é uma verdadeira aula de como fazer música raiz nordestina misturada com rock. Simplesmente sensacional! Essa vou colocar aqui para vocês entenderem sobre o que estou falando. Se liguem na velocidade do triângulo no acompanhamento da música. Sem contar as viradas de ritmo, ora totalmente voltado para o hardcore, ora mais cadenciado num baião.

Em “A História do Zé Pedrinho”, temos a história de um homem que após deixar seu amor no sertão e partir em busca de uma vida melhor, retorna para os braços dela e para sua surpresa “Passou por aqui toda arrumada cheia de homem e de cara pintada”. Continua: “Numa casa logo em frente eu achei a Esmeralda
Casa de homem é o que dizia a placa, vou esperar a madrugada”
.

A história não acaba nada bem para o Zé Pedrinho, que inconformado com a situação em que encontrou Esmeralda, a mata e em seguida tira a própria vida.

Assim como em todo o movimento manguebeat, as mazelas do Recife dos anos 90 também eram retratas nas músicas em forma de protesto. “Recife” é um exemplo e é também outro grande destaque do álbum.

Meu último destaque vai para “Psicobaião“, que fala sobre um homem que sonha em poder viver no sertão com sua família.

São 13 faixas em pouco mais de 38 minutos, e de música boa! Se você ainda não conhece esse baita disco, não perde tempo. Há muitos tesouros escondidos na música brasileira. Dentro do possível, iremos desenterrar vários desses tesouros.

Link do disco (Spotify):

0 0 votos
Avalie o disco

0 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votado
Feedbacks imbutidos
Visualizar todos comentários
plugins premium WordPress