Ace Monroe – Wild Card (2025)

Estava eu fazendo aquele garimpo rotineiro — sim, sou um dos mais indignados com o papo de que “o rock morreu” — e, por isso, faço questão de pesquisar muito o que está rolando no submundo do underground, quando me deparei com um tal de Ace Monroe. Bom, pensei: a estética está bem legal, remete aos anos 70. Vou ouvir.

Foi aí que coloquei o disco homônimo da banda, lançado em 2023. Eu achei aquilo muito bom! “Os garotos de Nashville sabem o que estão fazendo”, concluí. Como eles mesmos dizem: uma verdadeira banda de “rock and roll americano”, assim como o Aerosmith, que com certeza serviu de inspiração para essa rapaziada. Blues, groove e até algo funkeado, tudo na medida certa.

Logo em seguida, ouvi o primeiro álbum deles, lançado em 2022, o Shelter in Place, que tem uma pegada bem mais Southern Rock, muito calcada no blues. Enfim, ambas as experiências foram excelentes. Daí veio a expectativa por um novo disco e, finalmente, ele chegou em 2025.Mas calma, como já dizia o poeta: nem tudo são flores.

Normalmente, não comparo discos — acho que cada um deve ser apreciado de forma única, como uma obra fechada em si mesma. Mas confesso que, dessa vez, foi inevitável. Não sei por quê, mas, quando a banda usava os backing vocals, me dava a sensação de ser uma espécie de Jonas Brothers com distorção — e eles abusaram desse recurso, para minha infelicidade. Talvez seja porque notei que eles, de certa forma, modernizaram demais a coisa. Nada contra o som moderno, mas se tornou algo que não me agradou: muito bonitinho e plastificado, dentro de uma fórmula pouco ousada. Será uma tentativa de deixar mais “palatável” para chegar a mídias que não abrem muito espaço para o rock? Veremos.

Outra coisa que me incomodou demais foi o fato de parecer que tiraram um pouco (bastante) do peso. Sem falar nas baladas — nada comoventes. Tenho quase certeza de que “What Do You Do” vai pegar muita gente; poderia apostar que a maioria vai curtir essa balada, mas não fez a minha cabeça. A essa altura, alguém pode perguntar: “só reclama? Não teve nada de positivo para destacar?”. Claro que teve. Vamos aos destaques:

“Rabbit Foot Boogie” me deu esperanças. Logo na segunda faixa, tivemos um hard rock visceral, rápido, direto ao ponto, com um solo super bacana e tudo o que temos direito. Achei que ali a coisa iria engrenar de vez. Agora vai! Mas não foi, ou não foi tanto — pelo menos pra mim. Pensei que talvez essa pudesse ser a faixa de abertura, mas logo abandonei a ideia, a expectativa seria ainda maior, e o tombo, também.

Pulamos sete faixas, sim, isso mesmo, até chegarmos a “If You’re Gonna Swing”, outra com cara de Ace Monroe. Logo de início, uma intro daquelas! Bateria furiosa, riff na sequência e muita energia. Pouco mais de quatro minutos de deleite com aquilo que eu esperava ouvir em todo o disco. Ainda estou decepcionado, porém esboçando um leve sorriso. Isso não significa que o resto seja totalmente “xoxo, capenga, manco, anêmico, frágil e inconsistente”, mas “faltou ódio”, sangue correndo nas veias — e foi isso que “If You’re Gonna Swing” entregou, por isso merece estar nos destaques!

Dessa vez, não precisei avançar muito para chegar em “Teasin’”. Cara, gostei demais desse som. Lembra da coisa groovada e funkeada, mencionadas há pouco? Pois é, aqui encontramos isso em grande dosagem. A faixa começa em ritmo desacelerado, vai ganhando força da metade pra frente e depois desacelera novamente. Sonzeira!

“Baby, Please Come Home” merece menção honrosa. Esse blues acústico vale ser citado. O problema está no coro vocal, que joga a raiz do blues ladeira abaixo, parecendo, mais uma vez, uma boy band. Se somente o Robbie tivesse cantado, teríamos uma baita música, pois o instrumental e a proposta fazem referência direta aos tempos áureos do delta blues.

Às vezes, gosto de falar de discos que são legais, mas que não passam disso. É provocativo, gera discussão, e outra pessoa pode ter uma impressão totalmente diferente da minha, me chamar de louco — e está tudo certo, desde que numa mesa de bar, o que torna tudo mais interessante. Já disse: não acho que Wild Card seja descartável, bem longe disso. Só não me pegou pela expectativa sonora que eu criei com base naquilo que já havia escutado do Ace Monroe. No fim, a culpa é minha. Poderia afirmar que se esse disco for o seu primeiro contato com a obra da banda, há uma grande possibilidade de avaliá-lo com mais “carinho” que eu.

Tem algo interessante nesta resenha — e que foi intencional: fazer você conhecer uma banda nova e ouvir os discos anteriores dela. Se uma única pessoa fizer isso, minha missão estará cumprida. Afinal, será mais uma que não deixará o rock morrer.

Nota 6

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
plugins premium WordPress