Depois de um hiato de 5 anos, o DJ e produtor musical Mark Ronson lançou, em 2015, o que eu acredito ser um dos melhores álbuns da última década. Com um misto de consistência e uma qualidade de produção muito boa, Uptown Special é uma enorme homenagem à memória do funk, R&B e alguns outros estilos alternativos. Os detalhes sobre a produção foram muito bem-documentados, e escrevendo esse review descobri que essa produção foi um projeto dos sonhos, e importantíssimo para o Sr. Ronson. E até para nós, entusiastas da música.

O álbum foi dedicado à Amy Winehouse, com quem ele teve uma relação de trabalho conturbada durante a produção do álbum Back to Black, de 2006, e que rendeu também o single “Valerie”, do seu outro álbum “Version”, de 2007.

Aqui temos uma ótima lista de colaborações. Alguns que estavam voando bem alto na época, como o Bruno Mars, Kevin Parker (Tame Impala) e Andrew Wyatt, outros que já vinham de outros carnavais como o rapper Mystikal e o grande Stevie Wonder. E claro, outros nomes menores que não fazem feio. Vamos à faixas.

O álbum abre com “Uptown’s First Finale”, uma música curtinha mas muito bonita, que conta com a gaita de Stevie Wonder. E isso foi possível graças a um tiro no escuro. Ronson gravou a música, e o som junto à letra o lembravam do som dessa gaita; e isso o fez enviar o som ao próprio Stevie, contando sobre a ideia. Inesperadamente, ele respondeu! E deu ao mundo mais um trabalho bem agradável.

Separar os destaques para esse álbum é quase impossível – eu gostei de quase todas. A única que não me agradou é “Crack in the Pearl”, que tem cara de música de piano de concerto de diva pop. Para mim não cabe no álbum, apesar da boa qualidade melódica.

O artista com mais faixas é Kevin Parker, e a segunda já é uma das suas. “Summer Breaking” é uma das melhores músicas para se passar um dia na piscina. Uma bossa-nova acompanhada de um som meio distorcido de guitarra – um tipo de som de guitarra que virou uma das assinaturas da maior parte do álbum.

“Feel Right”, trouxe o rapper Mystikal de volta às paradas depois de mais de uma década.

Não, eu também não fazia ideia de quem ele era. Duvido que outros ainda soubessem, mesmo na época. Mas enfim, um misto de rap com funk dos anos 60 ao estilo de James Brown e os J.B.’s, que funcionou muito bem, e rendeu um videoclipe muito legal.

E então, “Uptown Funk”. Você já ouviu, já tocou na rádio ano após ano. Uma excelente faixa, inspirada em muito funk mainstream do final dos anos 70 (e no que dizem ser chamado de “Minneapolis Sound”) , com Bruno Mars e seu time de cantores, e que foi gravada em diferentes locais do globo, que demorou 6 meses para ficar pronta (e causou uma série de crises de ansiedade e vômito para Mark Ronson), e que ficou no topo da Billboard Hot 100 por 14 semanas. E junto a isso, gerou controvérsias: apesar de ser inspirada por todo o som da funk music dos anos 70, teve de dar créditos à Gap Band, pela similaridade à música “Oops Upside Your Head” (1979), e os membros e produtores da banda passaram à receber 17% de royalties do single. De qualquer forma, foi algo diferente de TUDO presente entre os lançamentos da época, e o clipe já foi um dos mais assistidos no youtube. Dinamite pura.

“I Can’t Lose”, com a voz de Keyone Star. A cantora foi um talento encontrado após mais de 100 audições durante uma viagem pelo sul dos EUA. O som é guiado por uma forte linha de baixo e teclados sintetizados. Ela tem uma voz e estilo quase idênticos ao da Evelyn Champagne King. Mas espera, também lembra de Midnight Star! Pois então, é uma roupagem moderna de um Baile do Charme da década de 1980, enérgica e cheia de efeitos de sintetizadores de época.

“Daffodils”, com Kevin Parker, um funk-rock setentista viciante, com um som mais sinistro e psicodélico, e um poderoso solo de guitarra no final que mais parece dar murros no seu peito junto à bateria.

Seguida de “In Case of Fire”, com Jeff Bhasker no vocal, bem divertida e que ainda bebe um pouco da fonte do rock.

“Leaving Los Feliz”, a última com Parker. Um som bom, simples e beeem chiclete, e que cabe bem para uma rádio pop; e que se encaixa com o som anterior. Fala sobre um hipster mais velho que não admite que seus anos de festa já se passaram.

E, antes do fechamento do álbum, que acontece com uma continuação da introdução, “Heavy and Rolling”. A que me mantém mais introspectivo e que me pegou com mais força. Uma história de um homem e seu carro, um Lincoln preto, atravessando as ruas de Nova Iorque pela noite. E ele compara sua experiência com uma mulher interesseira ao seu prazer de dirigir sozinho por aí. Obviamente uma música perfeita para dirigir e esfriar a cabeça em uma noite de verão. Deixe a linha de baixo, o metrônomo de fundo e os riffs de guitarra te levarem pelo caminho. Um som com menos efeitos sintetizadores, que fecha com um solo de teclado bem sofisticado. Menos pop e um pouco mais de substância.

Isso é “Uptown Special”, uma coleção de sons inspirada pelo melhor do funk e R&B dos anos 60, 70 e 80, com algumas pitadas de rock psicodélico e outros gêneros. Ganhamos, então, um excelente álbum para o mundo do pop, para a rádio, para a memória de clipes marcantes, e para as nossas coleções. Um estrondoso retorno de Mark Ronson, que realizou alguns de seus pequenos sonhos, e se tornou, também, em uma dedicatória.

Acho que, comparativamente, um feito similar e da mesma época seria o “Random Access Memories” do Daft Punk. Mas isso pode ficar para um artigo futuro, certo?

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