Em 1986, o Cinderella lançava seu primeiro disco. E não foi um disco qualquer, “Night Songs” rapidamente se tornou um grande sucesso. Eles chegaram com os dois pés na porta, mostrando que não queriam apenas pertencer à cena do hard rock oitentista, mas sim ser os grandes protagonistas.

Para termos uma ideia, em poucos meses, “Night Songs” já haviam vendido mais de dois milhões de cópias nos Estados Unidos, o que equivale a dois discos de platina. A faixa “Nobody’s Fool” alcançou a 13º posição na Billboard Hot 100 americana. Meus amigos, não estamos falando de pouca coisa. Convenhamos que, nos anos 1980, a concorrência era acirradíssima. Figurar nessa lista já era um feito e tanto, imagine chegar às primeiras posições. Portanto, lançar um novo trabalho era prá lá de desafiador. Eu sempre falo que deve ser terrível para qualquer banda entrar no estúdio para trabalhar num álbum cujo antecessor atingiu grande sucesso. Mas eles tinham a fórmula, certo?

Em partes, porque “Long Cold Winter” marcou a virada na sonoridade do Cinderella. Se já seria difícil repetir o sucesso do álbum de estreia, agora mais um elemento foi adicionado: “abandonar” o que deu certo em “Night Songs” e fazer um som muito, mas muito diferente. Para vocês terem ideia do desapego, até mesmo aquele visual extravagante foi substituído por algo menos chamativo (eu disse menos). A mensagem era clara: “Queremos ser vistos como uma banda madura e chamar a atenção pela qualidade do nosso trabalho”.

Contando novamente com o experiente produtor Andy Johns e com o lendário baterista Cozy Powell, lá foram eles, no ano de 1987, iniciar a gravação daquele que, na minha opinião, é o melhor disco da banda.

Destaques do disco

Antes de irmos para as músicas, vale comentar um pouco a respeito da participação do Cozy Powell no disco. O baterista Fred Coury entrou na banda durante a turnê do “Night Songs”, substituindo o então dono da posição Jim Drnec, ou seja, ele não havia participado da gravação do disco de estreia da banda. Pela inexperiência do jovem Fred, a banda optou por convidar uma galera mais experiente com as baquetas. Foi nessa que o Cozy entrou na parada e também o Denny Carmassi, outro baterista tarimbado que já havia trabalhado com nomes como “Heart”, “Montrose” e “Sammy Hagar”. Nosso querido Fred Coury pôde beber dessas fontes inspiradoras e assim gravar o terceiro disco do Cinderella, o também excelente “Heartbreak Station” (1990). Dizem as más linguas que ele era muito bom ao vivo, mas deixava a desejar em estúdio. Eu particularmente não compro essa narrativa. Talvez seja verdade, porém o mais comum é acontecer o contrário, ainda mais se considerarmos que no estúdio o músico pode tentar algumas vezes antes de chegar no “take” perfeito. Real ou não, voltemos ao disco.

Se alguém não acreditava que eles estavam realmente dispostos a mudar a rota, a faixa título acabou com qualquer dúvida. “Bad Seamstress” começa com um Delta Blues daqueles e logo cede espaço para “Fallin’ Apart At The Seams”, que apresenta um hard rock visceral. É a minha faixa preferida, inclusive. A marca registrada do Cinderella neste disco foi a guinada gigantesca para o blues. O country também se fez presente, embora em dosagem mais baixa. Outro ponto interessante é o vocal do Tom Keifer, que possui algo muito semelhante ao do Brian Johnson. Em vários momentos, podemos perceber nuances de timbre que nos surpreendem pela similaridade com vocalista do AC/DC.

A faixa seguinte é outro clássico da banda: “Gypsy Road”. Aqui podemos notar que aquele típico som “glam” ainda não havia sido exorcisado por completo, embora também não seja o retorno absoluto às origens, como é o caso de outra música que compõe o trabalho, “Fire And Ice”. Essa sim, ninguém estranharia se estivesse no disco anterior. Aliás, não é que estranharia, ela caberia como uma luva em “Nights Songs”. Voltando a “Gypsy Road”, é fácil identificar a mistura equilibrada entre os novos elementos sonoros e os antigos da banda.

A terceira faixa é aquela balada maravilhosa que fez “Long Cold Winter” se tornar ainda maior que seu antecessor: “Don’t Know What You Got (Till It’s Gone)”. Se “Nobody’s Fool” chegou ao 13º lugar nas paradas, essa foi além, alcançando a 12º posição. Essa é uma daquelas músicas “dor de cotovelo” do roqueiro. Entra fácil numa playlist de quem quer sofrer por amor e cria aquela lista caprichada de canções. Ouça essa belezura:

O álbum tem dez faixas, se eu falar de tudo o que gosto nele o caro leitor não vai precisar ouví-lo na íntegra. Portanto, vou citar apenas mais duas que são grandes destaques para mim: A primeira é “Second Wild”, que é a minha segunda música predileta. Esse som, meus amigos, é simplesmente sensacional! Ela é mais rápida, furiosa, claramente influenciada pelo hard rock dos anos 70, mostrando a capacidade do Cinderella em transitar nos mais diferentes estilos de rock. A outra é “Coming Home”, que possui uma levada mais acústica com o country sendo explorado em alguns momentos, o que tornam a faixa muito agradável.

Apesar de tudo o que eu já destaquei, vale muito a pena conferir o disco inteiro. Mesmo o que não foi diretamente citado tem muito a entregar. Esse trabalho é um verdadeiro clássico subestimado. Embora quase sempre fique de lado quando o tema é o hard rock glam, o Cinderella sempre demonstrou muita qualidade em seus trabalhos. Sabemos que muitas pessoas torcem o nariz para o estilo das bandas da época, mas quando param para ouvir discos como esse, despindo-se dos preconceitos, deixando de olhar para as roupas e para o nome das bandas, passam a apreciar. Eu sou suspeito para falar, pois é de longe aquela que eu mais gosto no gênero.

A única coisa que “Long Cold Winter” tem muito em comum com “Night Songs” é o sucesso. Foram mais de 3 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos, o que rendeu mais três discos de platina para a turma da Filadélfia. Eles ousaram, se reinventaram e cravaram o nome entre as grandes bandas de hard rock dos anos 1980.

Ficha técnica:

Ano de lançamento: 1988

Membros:

  • Tom Keifer – Vocais principais, guitarras, piano, slide guitar, dobro
  • Jeff LaBar – Guitarras
  • Eric Brittingham – Baixo
  • Fred Coury – Bateria (presente na banda, mas não gravou a maioria das partes de bateria do álbum)

Músicos Adicionais:

  • Cozy Powell – Bateria
  • Denny Carmassi – Bateria
  • Jay Levin – Guitarra pedal steel em “Don’t Know What You Got (Till It’s Gone)”
  • Rick Criniti – Teclados

Produção:

  • Produtor: Andy Johns
  • Engenheiros: Andy Johns, Steve Rinkoff, Bob Rock
  • Mixagem: Andy Johns
  • Assistente de Engenharia: Charlie Brocco, Robin Laine, Stephen Benben, Gary Wright
  • Masterização: George Marino
  • Direção de Arte: Jeri Heiden
  • Fotografia: Ross Halfin

Gravadora: Mercury Records

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