Minha história com esse disco é muito especial. Nessas horas, vemos que a relação com a música é algo bem particular. Para muitos fãs do Metallica, foi apenas mais um disco que não tinha “nada a ver” com a banda que eles conheceram. Para mim, foi quase o começo de tudo.

Tudo começou no ano de 2008. Eu estava com 14 anos quando o rock surgiu na minha vida para valer. Dizem que, nessa idade, a rebeldia faz parte do pacote. No meu caso, a “rebeldia” foi contra aqueles que tinham a mesma idade que eu. Não queria ser mais um; queria ser diferente e decidi que a música seria o meio de atingir esse objetivo. Porém, minha dúvida era: “Qual estilo de música meus colegas não escutam de jeito nenhum?”. Tenho certeza que agora você conseguiu ligar os pontos.

Pois bem, lá fui eu pesquisar bandas de rock sem saber quase nada a respeito. Embora considerasse minha infância muito rica em termos musicais, o máximo que eu conhecia de rock (mesmo sem saber que se tratava de rock) eram as bandas nacionais, principalmente as dos anos 80.

A falta de conhecimento me fez sair tateando no escuro. Achava uma música do AC/DC aqui, outra do Red Hot Chili Peppers ali (tocava muito no rádio), Audioslave e assim por diante, aos trancos e barrancos. Certo dia, me deparei com uma tal de ‘Whiskey in the Jar’. Parei e pensei: “Gostei dessa banda, quero saber mais”. Daí encontrei ‘One’, e descobri que a música que eu ouvia na hora que anunciavam o top five no CQC era ‘Enter Sandman’. Eu acessava um site chamado “Kboing”, que na época listava apenas as nove ou dez músicas mais acessadas de cada banda, o que era mais um pontapé inicial para quem não conhecia muito (como eu). Talvez até desse para acessar outras, mas eu não lembro de conseguir.

Mas o garoto estava ávido por mais Metallica e, nas minhas buscas, quase sem querer, encontrei um disco, não sei se no 4shared, LimeWire ou Ares, não me recordo. Esse disco era o ‘Death Magnetic’. Quando ouvi “All Nightmare Long” e essa que está logo abaixo, meu mundo mudou, sem exagero.

O bichinho do rock me picou e, daí em diante, esse negócio só ganhou mais espaço na minha vida. Esse site e o programa de rádio provam que estou falando muito sério.

Hoje compreendo o temor e as críticas dos fãs do Metallica, afinal, os anos 90 foram bem conturbados no sentido criativo. A sequência ‘Load’ (1996), ‘Reload’ (1997), ‘Garage Inc.’ (1998) e ‘St. Anger’ (2003) deram muitos motivos para aqueles que viram o auge da banda torcerem para que eles não lançassem mais nada. Alguns vão se arrepiar só de ler esses nomes. Embora seja um disco de covers, gosto do ‘Garage Inc.’ e acho que, se o ‘St. Anger’ fosse melhor produzido, seria um disco bem legal. O resto, eu concordo. Mas para não perder o foco, vamos continuar no ‘Death Magnetic’.

Algo diferente aconteceu com este disco. Para começar, chamaram o consagrado e experiente produtor Rick Rubin para trabalhar no novo álbum. Em uma entrevista para a Rolling Stone, ele disse:

“O objetivo principal de nosso trabalho juntos foi que eles voltassem a ser o Metallica, se sentindo bem em ser uma banda de heavy metal. De certa forma, eles já tinham feito isso, mas antes disso, eles tentaram se reinventar de formas diferentes.”
“Eu tentei fazê-los se reconectar com tudo que todo mundo se apaixonou, com o Metallica, em primeiro lugar. Eu os fiz ouvir as músicas que ouviram na época que eles fizeram o ‘Master of Puppets’, aquelas influências. Eu pedi a eles para viver com essas influências e passar mais tempo tocando juntos como uma banda.”

Rick Rubin

Muita gente alega que ele salvou o Metallica de lançar uma sequência de discos ruins, enquanto outros dizem que ele estragou tudo. Enfim, as opiniões se dividem. Mas uma coisa é inegável: o som da banda no ‘Death Magnetic’ é muito, mas muito diferente dos seus antecessores. Se há um disco deles, entre 1996 e 2008, que remete ao thrash metal de outrora, é esse.

Tudo bem que estou usando esse espaço para falar como esse disco foi importante para mim, mas não posso encerrar sem fazer pelo menos três menções honrosas:

“Broken, Beat & Scarred – Essa música é aquela pancadaria meio arrastada que, quando pega no tranco, sai da frente. O solo dela é simplesmente incrível. Tenho certeza de que, se entrasse em alguns discos mais clássicos da banda, ninguém reclamaria.

“My Apocalypse” – A mais curta do disco e não menos intensa, encerra os trabalhos de forma muito digna. É interessante notar como o contestado Lars Ulrich mandou bem nesse disco inteiro.

“Suicide & Redemption” – A mais longa do disco, com diversos momentos dentro dos quase dez minutos de música. Não estou comparando, que fique claro, mas nota-se que eles realmente foram beber nas próprias fontes quando existem músicas que, em termos de construção, se assemelham muito às que encontramos no “…And Justice for All”. Pode parecer que estou vendo coisas, mas eles criaram paralelos entre esses álbuns. A “One” do ‘Death Magnetic’ seria “The Day That Never Comes”; “To Live Is to Die”, “Suicide & Redemption”; e “Dyers Eve”, “My Apocalypse”. Essas últimas, até mesmo pelo fato de serem as últimas e as menores faixas dos discos. A cor cinza, o fato de um ter sido lançado 20 anos após o outro. Convido-os a fazer esse exercício.

Encerro dizendo que, de lá para cá, mergulhei mais e mais fundo nesse universo. Tanto que acabo dedicando pouco tempo para ouvir o Metallica, que permanece sendo a banda mais importante para mim, embora não a considere a maior ou melhor de todas. Meu disco preferido deles após 16 anos? “Ride the Lightning”.

Avaliar o ‘Death Magnetic’ como sendo incrível hoje é mais fácil ainda. Conheço a discografia do Metallica de ponta a cabeça e posso afirmar que sim, esse é um baita disco. Após tantas decepções, esse disco trouxe o bom e velho Metallica de volta. Se você ouvir o “Death Magnetic” de forma desapaixonada e sem comparar com outras obras, vai passar a gostar mais dele também, vai por mim.

Link do disco (Spotify):

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